Livros, Agendas, Recomeços.
1. Entrei em 2020 com "Luanda, Lisboa, Paraíso", de Djaimilia Pereira de Almeida, nas mãos. Não haveria melhor maneira. Páginas perfeitas, com uma subtileza tocante, contrastante com o conteúdo brutal de uma história na qual se acredita a medo.
Entrar no livro é entrar numa sala escura, desviando cortinados com a ponta dos dedos, sentindo-lhes a textura áspera e imprecisa. O odor a pele suada, as gotas de memórias antigas escorrendo-nos pelo corpo. Ficamos frágeis quando a casa arde: para quê tudo isto?, perguntamos. E ajoelho-me de humildade quando o velho Cartola e companhia avançam para a Reconstrução. Sísifo injustiçado, fardo impossível.
2. Toda a filosofia do mundo. É disso que preciso quando quero escolher uma agenda. Se me concentro em cada dia, no decurso cirúrgico das horas, então perco a noção do todo, os dias de janeiro não são diferentes dos dias de maio, perdidos algures entre as finíssimas páginas, e tantas. Se quero uma visão ampla do tempo, reduzem-me o espaço para anotar: tarefas, aniversários, projetos, viagens, festas, dúvidas.
Pode-se fazer a analogia com a escolha de uma lente para um passeio fotográfico na montanha: entre o detalhe de uma flor (as rugosidades próprias dos estames, as nervuras ansiosas das pétalas, o passeio de uma formiga visitante) e o grande recorte do corpo da montanha no contraste do mar infinito.
Para além disso, assumindo-se escassos os recursos, uma agenda é também um compromisso. Um ano inteiro de registos não é nada na grande escala das coisas mas pode ser tudo na nossa vida íntima. Neste novo passeio cósmico, não somos mais do que formigas visitantes.
Entrar no livro é entrar numa sala escura, desviando cortinados com a ponta dos dedos, sentindo-lhes a textura áspera e imprecisa. O odor a pele suada, as gotas de memórias antigas escorrendo-nos pelo corpo. Ficamos frágeis quando a casa arde: para quê tudo isto?, perguntamos. E ajoelho-me de humildade quando o velho Cartola e companhia avançam para a Reconstrução. Sísifo injustiçado, fardo impossível.
2. Toda a filosofia do mundo. É disso que preciso quando quero escolher uma agenda. Se me concentro em cada dia, no decurso cirúrgico das horas, então perco a noção do todo, os dias de janeiro não são diferentes dos dias de maio, perdidos algures entre as finíssimas páginas, e tantas. Se quero uma visão ampla do tempo, reduzem-me o espaço para anotar: tarefas, aniversários, projetos, viagens, festas, dúvidas.
Pode-se fazer a analogia com a escolha de uma lente para um passeio fotográfico na montanha: entre o detalhe de uma flor (as rugosidades próprias dos estames, as nervuras ansiosas das pétalas, o passeio de uma formiga visitante) e o grande recorte do corpo da montanha no contraste do mar infinito.
Para além disso, assumindo-se escassos os recursos, uma agenda é também um compromisso. Um ano inteiro de registos não é nada na grande escala das coisas mas pode ser tudo na nossa vida íntima. Neste novo passeio cósmico, não somos mais do que formigas visitantes.
Pedro Eduardo Ramos
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