O valor do silêncio.
Vivemos na época do barulho. Isso já o sabemos, até pela multiplicação de livros e artigos sobre o tema. Ninguém reflete, no entanto, sobre o resultado do acumular desses testemunhos. Isso parece um paradoxo. Falamos persistentemente sobre os benefícios do silêncio, da reflexão. Colorimos com expressões que, entretanto, ganharam vida própria, como o "pensamento lento" ou - terror dos terrores -, a "meditação". O leitor atento poderá, por esta altura, estar pensando: "não é este texto mais um dos muitos que o autor parece criticar?". Ora, evitemos isso.
Sinto como urgente a necessidade de fazer o mínimo possível necessário. Os versados em filosofia trarão à colação a denominação apropriada para tal modo de conduzir a vida. Os não-versados em filosofia dirão, entre dentes, que sou é um preguiçoso. A minha perceção individual tem-se cimentado no sentido de me auto-impor a necessidade de não acrescentar entropia à enorme desordem do mundo.
Olhando a vida dessa maneira, fácil é perceber que a chave do problema não está na ação, mas sim na "não-ação". Então a minha to-do list é frequentemente uma not-to-do list. Pega-se no que se tenciona fazer e submete-se a uma prova cristalina para a qual apenas é necessário um espelho (pode ser um espelho mental, não vá o caro leitor correr comprar um). A pergunta é: qual o resultado desta ação? E qual o resultado desta não-ação?
Parece-me também evidente que a esmagadora maioria das ações são fúteis. Pequenos golpes curtos, aleatórios e exasperantes no tecido do tempo. Que enorme manta de retalhos fazemos da vida quando ela nos foi posta como um fenomenal lençol de tecido macio.
Sinto como urgente a necessidade de fazer o mínimo possível necessário. Os versados em filosofia trarão à colação a denominação apropriada para tal modo de conduzir a vida. Os não-versados em filosofia dirão, entre dentes, que sou é um preguiçoso. A minha perceção individual tem-se cimentado no sentido de me auto-impor a necessidade de não acrescentar entropia à enorme desordem do mundo.
Olhando a vida dessa maneira, fácil é perceber que a chave do problema não está na ação, mas sim na "não-ação". Então a minha to-do list é frequentemente uma not-to-do list. Pega-se no que se tenciona fazer e submete-se a uma prova cristalina para a qual apenas é necessário um espelho (pode ser um espelho mental, não vá o caro leitor correr comprar um). A pergunta é: qual o resultado desta ação? E qual o resultado desta não-ação?
Parece-me também evidente que a esmagadora maioria das ações são fúteis. Pequenos golpes curtos, aleatórios e exasperantes no tecido do tempo. Que enorme manta de retalhos fazemos da vida quando ela nos foi posta como um fenomenal lençol de tecido macio.
Existem os grandes planos, as grandes estratégias e os grandes passos: uma nova relação amorosa, uma mudança de emprego, a compra de uma casa. Mas entremeamos tudo isso com um mar de palavras sem sentido, ações redundantes, pouco eficazes, contraditórias. Criamos projetos em que não acreditamos para agradarmos a pessoas de que não gostamos assim tanto. Somos vítimas do nosso engodo, imagens distorcidas, jogo de sombras. É que há o tempo, limitadíssimo, e a vida corre por cima, apressadíssima, a ver se encontra alguma coisa que nos foi dito que nos seria útil. Trocamos os pés numa dança para que alguém (quem?) nos arrastou numa noite bem regada.
As coisas naturais: rios, montanhas, a chuva, o mar revolto ou manso, a noite, os animais gemendo na noite, as leis da física, o sabor ácido de uma tangerina, o choro de uma criança: as coisas naturais fluem, aceitam-se, estão de bem consigo mesmas. Para quê largar tudo isso em nome da nossa truculenta, mal-amada, ácida maneira de viver.
Já alguém antes de mim escreveu tudo isto. O texto é uma ação desnecessária. Uso-o como um lembrete, um ensinamento de mim para mim mesmo.
Por hoje não há mais palavras.
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