Não pisarás a flor.


"faz como achares melhor",
disseste-me
quando um tormento
se abria nos teus
lábios gretados

sangue escorrendo estreito
as entranhas mucosas

flores lilás brotam
à margem
do quintal

(arena do nosso
desacordo)

aguardarei um sinal

jogo de regra única
"não pisarás a flor"
escreveu ninguém
a giz
no sítio das memórias

olho-te com espanto

o sangue arqueando
até à paz recôndita
(o canto dos teus lábios)

casa do beijo
primogénito


Vieira da Silva, 1959





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