Os nossos velhos.

Cresci numa pequena cidade do interior. Ainda guardo o reflexo de olhar para o céu sempre que oiço o barulho de um avião. À aldeia da minha avó só semanas depois da revolução de abril chegaram os ecos de esta ter acontecido. Quem quer conhecer Portugal tem de se sentar à mesa de um café no largo de uma aldeia, pedir uma cerveja, e escutar. Não há outra maneira.

Ao cientista deve exigir-se que não permita que o conhecimento que acumula o afaste da realidade. Assim não sendo, inchará como um balão a levitar sobre a terra, alheio e moralista.

Recordo um professor de medicina que nos disse certa vez: "tratem sempre os doentes como gostavam que tratassem a vossa mãe". Parece-me uma fórmula eficaz. 

Por isso sugiro: comuniquem ciência como se estivessem a falar com os vossos avós. Porque se não é sempre para eles que falamos, é certamente sobre a vida deles que falamos. 

Suspeito que a vida não será mais do que quatro ou cinco coisas simples. 

Adriano Miranda, Manuel Francisco, Covelo, freguesia de Ventosa, concelho de Vouzela, 15.10.2017


Comentários